O CINÉFILO
FALANDO DE CINEMA
Filme em Destaque: “ A PROPOSTA”
Realizador: Anne Fletcher
Actores: Sandra Bullock; Betty White; Ryan Reynolds; Denis O’Hare
Género: Comédia romântica Idade: 12 anos Duração: 109 minutos
A prepotência e a arrogância têm-se vindo a disseminar rapidamente em todos os sectores da sociedade dos nossos dias. Lidamos com elas diariamente, nos locais de trabalho, na rua, nos serviços públicos, na forma como somos governados e até, tantas vezes, nas nossas próprias casas. Há cada vez mais pessoas a julgarem-se o centro do mundo, à volta do qual todos os outros devem girar, de preferência prestando-lhes vassalagem. Este tipo de atitude está na base de muitos dos conflitos que vivemos actualmente e é o adubo que alimenta e faz crescer a intolerância, também ela cada vez mais presente nos dias de hoje. Mas nenhuma ditadura, que não é mais do que a soma da prepotência com a arrogância, é eterna, e ao longo dos séculos, todas elas acabaram por ser derrubadas. Sempre assim foi e sempre assim será. Que se desiludam os ditadores, o seu reinado terá um fim e então eles olharão para todos aqueles que oprimiram suplicando a sua tolerância, aquela tolerância que eles nunca praticaram. È então que oprimidos se verão perante uma encruzilhada: o caminho do perdão, o mais difícil, ou o da retaliação, o mais apetecível. É um tema aliciante este que nos sugere este interessante filme, de Anne Fletcher, “A Proposta”. Quando um dia se nos proporcionar um eventual “ajuste de contas”, que caminho escolheremos nós?
Margareth, uma editora de sucesso, arrogante e autoritária, é uma chefe detestada pelos subordinados que no entanto lhe obedecem cegamente, sem coragem para a contrariar e para lhe demonstrar o quanto lhes desagrada a prepotência com que ela os trata. Obedecem-lhe docilmente, porque sabem que, se lhe desagradarem, correm sério risco de serem despedidos. Temem-na, mas não a respeitam, suportam-na mas não a admiram. Também Andrew, o seu diligentíssimo assistente, não a tem em melhor conta que os seus colegas, apesar de cumprir escrupulosamente todas as ordens e até mesmo satisfazer os seus caprichos. Andrew aspira a desempenhar um cargo mais importante dentro da empresa, mesmo que, para o conseguir, tenha que suportar, aparentemente de bom grado, o despotismo da sua chefe.
Um dia, Margareth vê-se confrontada com uma ordem de extradição do país onde se acolheu e trabalha, os Estados Unidos, para o seu país de origem, o Canadá. Com o desembaraço do costume e, habituada que está, em dispor da vida dos outros a seu belo prazer, a editora encontra rapidamente uma solução para resolver o seu problema. Casará com o seu assistente, e com o autoritarismo com que sempre age, informa Andrew dessa sua decisão. Como irá reagir o rapaz? Dispondo da uma oportunidade única para fazer cair a sua detestável chefe, e quem sabe conseguir, finalmente, alcançar a tão ambicionada promoção, será que ele, uma vez mais irá aceitar as ordens de Margareth ou, pelo contrário, vai finalmente ingar-se e ver-se livre, de uma vez por todas, daquela mulher detestável? Irá ele ser compassivo ou retaliador?
Chegada a esta situação é o argumentista que fica perante um dilema. Que caminho seguir? Por aquele que o espectador prefere, (o espectador nunca é vingativo, afinal aquilo não é nada com ele que está ali apenas para se divertir, e um final cor-de-rosa fica sempre bem), ou por aquele que um trabalhador bem real, provavelmente optaria de tivesse vivido, uma situação semelhante, (há quem afirme que a vingança é o prazer dos deuses),? Não vou revelar o sentido que o filme tomou, não porque exista nele qualquer espécie de supense que pudesse ficar prejudicado com a revelação, mas porque não quero interferir nas conclusões que o leitor poderá tirar se aceitar o meu repto para reflectir sobre qual decisão tomaria, se estivesse no lugar de Mathew.
Sobre o filme quero apenas adiantar que se trata de uma história hilariante, não tão fútil como, à primeira vista, pode parecer, com excelente trabalho dos actores, (Sandra Bulock, está excelente como sempre), com diálogos interessantes e as paisagens bonitas do Alasca, que a mim, um apaixonado das terras frias, me encantam sempre. Um filme excelente para ver nestas férias. Ligeiro, divertido, que não agride a nossa inteligência e que, se nós quisermos, pode servir para entrarmos dentro da personagem de Mathew, e tentarmos descobrir que tipo de pessoa somos nós: tolerante ou vingativo? Eu cheguei a uma conclusão e não fiquei supreendido. Afinal sou um homem dos velhos tempos. Um romântico por natureza.
Guilherme Duarte
(Publicado no nº de Agosto de 2009 do Jornal Cruz Alta. (www.cruzalta.paroquias-sintra.net.)