O POETA

O POETA

 

PARTISTE, MÃE.

 

Escureceu subitamente,

E eu fiquei só.

Estou com medo, mãe, estou com medo.

Muito medo.

Tu sabes como a escuridão me assusta

E o receio que tenho de estar sózinho.

Abraça-me, mãe.

Aperta-me nos teus braços

E afaga-me os cabelos.

Beija-me,

E canta-me uma canção.

Era assim que afastavas o meus sustos de criança

Enquanto o sono não chegava.

 Aconchegavas-me a roupa da cama.

Mais um beijo e um sussuro:

“Boa noite, meu amor.

Dorme um soninho descansado.”

Lembras-te?

Como podias esquecer?

 

Ainda há pouco me contavas o teu dia,

Enquanto o sol descia lentamente no horizonte

A dourar o entardecer. 

 

De repente, ficou escuro,

Muito escuro.

 

Fiquei só e tive medo.

 

Mãe

Não vás, não me deixes aqui sózinho

Com a escuridão à minha volta.

A  luz do farol que orientou a minha vida.

Apagou-se súbitamente.

Sinto-me perdido.

Chamo-te mas não respondes.

Estás serena, mas imóvel.

Não me falas, nem me ouves.

Adormeceste.

Aconcheguei-te a roupa

Como sempre me fizeste.

Abracei-te, mas não senti o aperto dos teus braços.

Beijei-te, mas, pela primeira vez, não retribuiste.

Os teus dedos não procuraram os meus cabelos como dantes.

Quis cantar-te uma canção, mas a voz atraiçou-me.

Mas tu já dormias. Serenamente,

A mesma serenidade que sempre te companhou

Ao longo da tua vida.

 

Mãe,

Estou assustado e tenho medo.

Sem ti, a criança que me mantive até hoje,

Deixou de fazer sentido. Partiu contigo.

E eu não sei viver sem ela.

 

 

 

Guilherme Duarte

 

FOLHAS CAÍDAS

 

Estas folhas espalhadas

Pelo chão do meu jardim

São os meus sonhos falhados,

As perspectivas goradas,

As metas nunca alcançadas

E todos aqueles sonhos

Que em tempos acalentei

Mas nunca realizei,

E que terminaram assim.

 

Daquela árvore frondosa

Que deu sombra à minha esperança,

As folhas foram caindo

Uma a uma sem parar.

E em cada folha que cai

Há um sonho que se vai,

E uma paixão que se extingue.

Em cada folha que amarelece

Há uma vida que enfraquece

E uma força que se esvai.

E quando essa folha cai

É uma página que se rasga

Do livro da minha história,

E no fim fica a memória,

E tem um nome: saudade.

 

Aquela árvore frondosa

Que já foi verde e viçosa,

Hoje de folhas despida,

Já não dá sombra a ninguém.

Está agora nua e caduca

E parece triste também

A árvore da minha vida.

 

Guilherme Duarte

 

 

 

 

 

 

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